

Museu Digital do Pagode Baiano
Samba de Roda do Recôncavo
A criação de engenhos de cana-de-açúcar e de paróquias na região que compreende São Francisco do Conde, Cachoeira e Jaguaripe nos finais do século XVI, e da paróquia de Santo Amaro na primeira metade do século XVII, assim como outras que se seguiram, fizeram com que a região do Recôncavo baiano chegasse ao século XVIII relativamente povoada, tendo Salvador e Cachoeira como os principais centros comerciais, políticos e culturais da colônia portuguesa. (SANDRONI & SANT’ANNA, 2006, p. 25).
Além do cultivo da cana-de-açúcar, a cultura do fumo também representava um forma de subsistência econômica para a região. Com o declínio das culturas da cana-de-açúcar e do fumo, ocorre o êxodo de trabalhadores negros das cidades de Santo Amaro, Cachoeira, São Félix e São Francisco do Conde para regiões menores, do entorno destas, causando assim a expansão do Recôncavo baiano, tanto do ponto de vista populacional como cultural. De acordo com Sandroni & Sant’anna (2006), foi graças a esse processo migratório que hoje é possível perceber certa unidade cultural na região. Mesmo em povoados e cidades distantes entre si, podem ser observadas práticas e tradições similares, a exemplo do samba de roda. (SANDRONI & SANT’ANNA, 2006, p. 27).
Na segunda metade do século XIX é que o samba vai aparecer, além dos documentos policiais, também na imprensa baiana como uma manifestação cultural praticada no Recôncavo baiano, a exemplo do jornal O Alabama circulado em janeiro de 1864 que trazia a seguinte descrição: “Nos becos da Rua da Castanheda havia sambas todas as noites acompanhados de pratos e pandeiros” (SANTOS, 1998, pp. 23-24, apud SANDRONI & SANT’ANNA, 2006, p. 30).
De certo é que a origem do termo samba está associado às manifestações coreográfico-musicais de influência africana em diferentes contextos históricos, sociais e geográficos. A exemplo disso, relembramos que a partir do século XVI, o termo batuques estava associado à toda manifestação cultural praticada por negros e essa concepção acompanhou o passar do tempo, recebendo outras designações como modinha, lundu, maxixe, samba, dentre outras variáveis.
O samba de roda é uma tradição proeminentemente rural, embora o processo de industrialização da região tenha influenciado nos costumes do lugar, ainda foi possível manter as suas tradições culturais, dentre elas o samba de roda.
No Recôncavo baiano há diversas modalidades de samba de roda, destacamos dois tipos: o primeiro é o samba corrido que caracteriza-se por ser uma categoria genérica, podendo ser chamado de samba de roda, o segundo, por possuir características diferenciadas que serão determinadas de acordo com a região do Recôncavo baiano, são designados de samba chula, samba amarrado, samba de parada, ou samba de viola, estes, na região de Cachoeira são chamados de samba de barravento. (SANDRONI & SANT’ANNA, 2006, p. 34).
Esteticamente, duas características básicas diferem essas duas modalidades de samba; no samba de roda o canto, a dança, o toque dos instrumentos acontecem simultaneamente, no samba chula a regra é um pouco mais rígida, o canto e a dança não acontecem ao mesmo tempo, sendo que o toque dos instrumentos acontece tanto no momento da dança quanto no momento do canto. No samba chula é permitido que apenas uma pessoa entre na roda para dançar enquanto no samba corrido ou samba de roda várias pessoas podem entrar na roda e dançar ao mesmo tempo.
Enquanto o samba de roda permite uma liberdade maior aos seus participantes, o samba chula define-se pela sua apreciação estética, ou seja, cada grupo ou participante espera o desempenho do outro que está na roda executando os movimentos até chegar o momento de ser escolhido pelo dançante na roda através da umbigada, movimento estético característico do lundu e também um traço da cultura de origem banto.
Um aspecto importante da estética do samba de roda é o passo do miudinho, passo característico do samba chula e de outras modalidades de sambas do Recôncavo baiano. Esse passo de dança consiste em uma leve e rápida pisoteada do(a) sambador(a) que mais se assemelha a um deslizar dos pés em uma superfície lisa. Estando na roda e executando o passo do miudinho o sambador ou sambadora pode tomar qualquer direção que lhe seja conveniente desde que seja dentro da roda. Geralmente quando esse passo é executado é acompanhado em seguida pela tradicional umbigada em convite ao próximo dançarino ou dançarina a entrar na roda pra sambar. A umbigada muitas vezes pode ser substituída por outro gesto como levantar o braço ou simplesmente um olhar, qualquer que seja o gesto escolhido pelo(a) dançarino(a) que estiver na roda deve ser interpretado como um convite pelo escolhido, que deverá prontamente entrar na roda.